domingo, 4 de julho de 2010

As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando uma com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, o estala a compostura dos sentimentos. Às vezes são os nervos que não podem agüentar mais, suportam muito, suportam tudo, era como se levassem uma armadura.
A mulher tem nervos de aço. E afinal à mulher está desfeita em lágrimas por obra de um pronome pessoal, de um advérbio, de um verbo, de um adjetivo, meras categorias gramaticais, mero designativos, como são igualmente as duas mulheres e as outras, pronomes indefinidos, também eles chorosos, que se abraçam à da oração completo, três graça sob a chuva que caia.
São momentos que podem durar eternamente. Há mais de uma hora que estas mulheres aqui estão. É tempo de sentirem frio.

José Saramago.

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