domingo, 18 de julho de 2010

Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.

clarice lispector

domingo, 11 de julho de 2010

Quando te encontrei, senti que tínhamos algo em comum, talvez fosse a vontade de viver, talvez fosse a vontade de ser feliz, não sei. Aconteceu que ao decorrer do tempo eu entendi o que realmente tínhamos em comum, nossa verdade era que precisamos um do outro pra sentirmo-nos seguros, protegidos da escuridão, da agonia, da ilusão, completando um ao outro, falávamos palavras de acalento para ver em nossos próprios olhos sinceridade, sentia-me presa a você, tanto quanto você a mim, força era aquilo que tínhamos que demonstrar um ao outro pois as dificuldade estavam apenas no começo. Eu me sentia bem ao seu lado, queria que o tempo parasse e nos encontrasse ali no mesmo momento eternamente, precentia que era só o começo, só não sabia que seria o começo de tudo que eu desconhecia, eu precisa dizer, eu precisava te mostrar as estrelas, te fazer sentir-se como eu, só eu não sabia que o que viria pela frente acabaria com tudo aquilo que foi construído aos poucos, eu precisava dele para viver, eu já não teria forças pra continuar, era como se tivesse perdido uma parte do meu corpo, uma parte essencial, como o cérebro ou o coração, como eu poderia continuar. Sem forças fui aos poucos encontrando outros pontos de confiança, nenhum como o dele, nenhum se igualava, e a consciência remoia meu interno, eu, sim eu, era a única culpada por tudo, por não ter sido forte suficiente pra fazer minhas próprias escolhas, por não ter pensado que eu havia encontrado minha paz e não poderia tê-la desperdiçado, assim eu sem forças continuei, não sei como eu consegui me levantar, queria poder voltar ao passado e fazê-lo diferente, mas eu não poderia, eu já o escrevi, e não é possível mudá-lo, eu teria que ter pensado muito antes de ter jogado ao vento a minha felicidade, então busquei forças em tudo aquilo que eu sentia, apesar da revolta dentro de mim, estava disposta a encontrar a minha força novamente, estava disposta há tê-lo de novo, mas isso não dependia só de mim, precisava reconquistar a sua confiança, precisava que minhas palavras de acalento fizessem os olhos dele transparecerem sinceridade outra vez mas não sabia como fazer isso, já não tinha o mesmo jeito para isso, talvez minha incerteza não me deixasse fazer isso, comecei a relembrar tudo aquilo que vivemos juntos, lembrei do seu sorriso, do seu lindo olhar, e fui em busca da minha felicidade, cada palavra sua era uma grande vitória pra mim, e cada vez mais minha consciência ia se conformando que o momento ruim havia passado, e que eu deveria continuar, as forças começaram a voltar e eu percebi que tudo é verdadeiro, e que eu preciso continuar, aproveitar o momento para consertar o meu passado, e ver seu sorriso lindo, e a sinceridade em seus olhos, ele é parte de mim, e isso faz-me feliz .

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Meu coração dormente, voltou a pulsar mais forte, meu olhos desolados pela frieza desse sentimento abriram pra observar a beleza do mundo, toda aquela nostalgia talvez tenha passado por um certo tempo, não sei até quando vou me sentir assim, não sei até quando eu ainda vou lembrar do seu jeito doce de falar, do desenho do seu rosto, do seu olhar, sei que ao pensar em você tudo aquilo que eu sinto faz eu perder a cabeça, faço coisas inacreditáveis. Não sei de onde vem essa força maior que me faz ser assim tão devota a você, de sentir tanta falta do seu carinho, do seu abraço, do seu amor, não são só resquícios, tudo está dentro de mim, como esteve desda primeira vez que eu senti !

domingo, 4 de julho de 2010

As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando uma com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjetivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, o estala a compostura dos sentimentos. Às vezes são os nervos que não podem agüentar mais, suportam muito, suportam tudo, era como se levassem uma armadura.
A mulher tem nervos de aço. E afinal à mulher está desfeita em lágrimas por obra de um pronome pessoal, de um advérbio, de um verbo, de um adjetivo, meras categorias gramaticais, mero designativos, como são igualmente as duas mulheres e as outras, pronomes indefinidos, também eles chorosos, que se abraçam à da oração completo, três graça sob a chuva que caia.
São momentos que podem durar eternamente. Há mais de uma hora que estas mulheres aqui estão. É tempo de sentirem frio.

José Saramago.